segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Áudiodescrição

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (WHO), em 2004 já existiam 5 milhões de pessoas cegas no Brasil, e no ano de 2005 o país já contava com 25 milhões de pessoas cegas ou com algum problema de visão. Esse grande número de indivíduos encontra-se excluído da experiência de assistir a um filme no cinema, um programa de TV, uma peça de teatro ou um espetáculo de dança em sua forma mais completa, ou seja, tendo acesso à narrativa visual destes produtos audiovisuais.

A audiodescrição é um recurso de tecnologia assistiva que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual junto ao público de produtos audiovisuais. O recurso consiste na tradução de imagens em palavras. É, portanto, também definido como um modo de tradução audiovisual intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal. Essa transposição caracteriza-se pela descrição objetiva de imagens que, paralelamente e em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral da narrativa audiovisual. Como o próprio nome diz, um conteúdo audiovisual é formado pelo som e pela imagem, que se completam. A audiodescrição vem então preencher uma lacuna para o público deficiente visual.

A audiodescrição acontece ao mesmo tempo em que a imagem aparece na tela, entre o conteúdo verbal ou as falas do produto audiovisual, e em sincronia com outras informações sonoras deste produto, ou seja, uma risada, uma porta batendo ou um tiro. Desta forma, a audiodescrição não se sobrepõe ao conteúdo sonoro principal do filme, mas trabalha com ele no sentido de proporcionar o melhor entendimento possível de uma cena.

A audiodescrição pode ser pré-gravada, ao vivo ou simultânea. A AD pré-gravada exige um roteiro detalhado para que seja gravado em estúdio e mixado à banda de áudio do produto audiovisual. Geralmente, a AD pré-gravada é aquela que podemos encontrar nas salas de cinema e em alguns programas de televisão. Já a AD ao vivo, como o próprio nome diz, acontece in loco, ou seja, ela não é gravada, mas narrada no momento em que o produto audiovisual está sendo apresentado. Ela é usada em festivais de cinema, peças de teatro, óperas e espetáculos de dança. Apesar de ser ao vivo, a AD é roteirizada antes do evento cultural, e cabe ao audiodescritor-locutor acompanhar o tempo real do evento. Por último, AD simultânea também acontece ao vivo, porém sem preparação alguma. Em programas de TV ou noticiários ao vivo, por exemplo, não é possível prever o que será falado ou filmado. Assim, o roteiro não existe e o audiodescritor-locutor terá que ser hábil e rápido o suficiente para descrever imagens que lhe são apresentadas pela primeira vez.

Seja pré-gravada, ao vivo ou simultânea, a audiodescrição chega ao público deficiente visual através de fones de ouvido, como os usados na interpretação simultânea, que devem ser disponibilizados nas salas de cinema e teatro. Na televisão, o simples toque na tecla SAP ou MTS faz com que a audiodescrição fique audível para o espectador deficiente visual.

Para a produção da audiodescrição gravada, o processo se dá nas seguintes etapas:

Um audiodescritor-roteirista começa pela apreciação do produto audiovisual, ou seja, ele o assiste para compreender o contexto e já para analisar a relevância das imagens para a narrativa audiovisual. Muitas vezes, o roteiro para a audiodescrição exigirá que o audiodescritor-roteirista faça opções em termos da relevância das imagens quando o espaço entre as falas é curto ou quase inexistente. Já um produto com poucas falas permite um roteiro de descrição das imagens mais detalhado. Contudo, em ambos os casos, a escolha das palavras que melhor descrevem as imagens é extremamente importante e exige uma certa sensibilidade. E, acima de tudo, o roteiro da audiodescrição deve seguir o ritmo do produto audiovisual e não contrastar com ele. O trabalho do audiodescritor-roteirista é, portanto, muito cuidadoso.

Para que a audiodescrição se encaixe entre as falas do produto audiovisual e para que o roteiro auxilie o audiodescritor-locutor que gravará o texto, é imprescindível que o audiodescritor-roteirista marque os tempos de entrada da audiodescrição de forma clara e destacada. A marcação do momento de entrada da audiodescrição geralmente é feita através do Time Code, ou código de marcação de tempo, que já aparece na tela do produto audiovisual a ser audiodescrito.

Uma vez pronto, é hora do audiodescritor testar o seu roteiro oralmente, como um ensaio para a gravação. Esta também é a hora do audiodescritor revisar seu roteiro, ajustando o tempo de entrada e reelaborando o vocabulário e estilo do texto, quando achar necessário.

O próximo passo é a gravação da audiodescrição em estúdio, num arquivo de áudio separado, o qual será editado e mixado à banda sonora original do produto audiovisual. Dependendo do gênero do produto, a voz que gravará a audiodescrição é selecionada. O dono da voz que grava o roteiro é chamado de audiodescritor-locutor ou narrador. Roteirista e locutor podem ser a mesma pessoa ou não. Mas vale lembrar que, no caso de duas pessoas diferentes, é sempre bom ter o audiodescritor-roteirista durante a gravação. A audiodescrição, como qualquer outro modo de tradução audiovisual, exige a cooperação entre roteirista e locutor para a boa qualidade do produto audiodescrito final.

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