quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Viva Fortaleza - Acessibilidade Audiovisual
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Áudiodescrição
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (WHO), em 2004 já existiam 5 milhões de pessoas cegas no Brasil, e no ano de 2005 o país já contava com 25 milhões de pessoas cegas ou com algum problema de visão. Esse grande número de indivíduos encontra-se excluído da experiência de assistir a um filme no cinema, um programa de TV, uma peça de teatro ou um espetáculo de dança em sua forma mais completa, ou seja, tendo acesso à narrativa visual destes produtos audiovisuais.
A audiodescrição é um recurso de tecnologia assistiva que permite a inclusão de pessoas com deficiência visual junto ao público de produtos audiovisuais. O recurso consiste na tradução de imagens em palavras. É, portanto, também definido como um modo de tradução audiovisual intersemiótico, onde o signo visual é transposto para o signo verbal. Essa transposição caracteriza-se pela descrição objetiva de imagens que, paralelamente e em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral da narrativa audiovisual. Como o próprio nome diz, um conteúdo audiovisual é formado pelo som e pela imagem, que se completam. A audiodescrição vem então preencher uma lacuna para o público deficiente visual.
A audiodescrição acontece ao mesmo tempo em que a imagem aparece na tela, entre o conteúdo verbal ou as falas do produto audiovisual, e em sincronia com outras informações sonoras deste produto, ou seja, uma risada, uma porta batendo ou um tiro. Desta forma, a audiodescrição não se sobrepõe ao conteúdo sonoro principal do filme, mas trabalha com ele no sentido de proporcionar o melhor entendimento possível de uma cena.
A audiodescrição pode ser pré-gravada, ao vivo ou simultânea. A AD pré-gravada exige um roteiro detalhado para que seja gravado em estúdio e mixado à banda de áudio do produto audiovisual. Geralmente, a AD pré-gravada é aquela que podemos encontrar nas salas de cinema e em alguns programas de televisão. Já a AD ao vivo, como o próprio nome diz, acontece in loco, ou seja, ela não é gravada, mas narrada no momento em que o produto audiovisual está sendo apresentado. Ela é usada em festivais de cinema, peças de teatro, óperas e espetáculos de dança. Apesar de ser ao vivo, a AD é roteirizada antes do evento cultural, e cabe ao audiodescritor-locutor acompanhar o tempo real do evento. Por último, AD simultânea também acontece ao vivo, porém sem preparação alguma. Em programas de TV ou noticiários ao vivo, por exemplo, não é possível prever o que será falado ou filmado. Assim, o roteiro não existe e o audiodescritor-locutor terá que ser hábil e rápido o suficiente para descrever imagens que lhe são apresentadas pela primeira vez.
Seja pré-gravada, ao vivo ou simultânea, a audiodescrição chega ao público deficiente visual através de fones de ouvido, como os usados na interpretação simultânea, que devem ser disponibilizados nas salas de cinema e teatro. Na televisão, o simples toque na tecla SAP ou MTS faz com que a audiodescrição fique audível para o espectador deficiente visual.
Para a produção da audiodescrição gravada, o processo se dá nas seguintes etapas:
Um audiodescritor-roteirista começa pela apreciação do produto audiovisual, ou seja, ele o assiste para compreender o contexto e já para analisar a relevância das imagens para a narrativa audiovisual. Muitas vezes, o roteiro para a audiodescrição exigirá que o audiodescritor-roteirista faça opções em termos da relevância das imagens quando o espaço entre as falas é curto ou quase inexistente. Já um produto com poucas falas permite um roteiro de descrição das imagens mais detalhado. Contudo, em ambos os casos, a escolha das palavras que melhor descrevem as imagens é extremamente importante e exige uma certa sensibilidade. E, acima de tudo, o roteiro da audiodescrição deve seguir o ritmo do produto audiovisual e não contrastar com ele. O trabalho do audiodescritor-roteirista é, portanto, muito cuidadoso.
Para que a audiodescrição se encaixe entre as falas do produto audiovisual e para que o roteiro auxilie o audiodescritor-locutor que gravará o texto, é imprescindível que o audiodescritor-roteirista marque os tempos de entrada da audiodescrição de forma clara e destacada. A marcação do momento de entrada da audiodescrição geralmente é feita através do Time Code, ou código de marcação de tempo, que já aparece na tela do produto audiovisual a ser audiodescrito.
Uma vez pronto, é hora do audiodescritor testar o seu roteiro oralmente, como um ensaio para a gravação. Esta também é a hora do audiodescritor revisar seu roteiro, ajustando o tempo de entrada e reelaborando o vocabulário e estilo do texto, quando achar necessário.
O próximo passo é a gravação da audiodescrição em estúdio, num arquivo de áudio separado, o qual será editado e mixado à banda sonora original do produto audiovisual. Dependendo do gênero do produto, a voz que gravará a audiodescrição é selecionada. O dono da voz que grava o roteiro é chamado de audiodescritor-locutor ou narrador. Roteirista e locutor podem ser a mesma pessoa ou não. Mas vale lembrar que, no caso de duas pessoas diferentes, é sempre bom ter o audiodescritor-roteirista durante a gravação. A audiodescrição, como qualquer outro modo de tradução audiovisual, exige a cooperação entre roteirista e locutor para a boa qualidade do produto audiodescrito final.
domingo, 14 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Sessão especial celebra o Dia de Luta das Pessoas com Deficiência
O evento marca o nascimento do Mídia Acessível, organização que presta serviços de audiodescrição e legendagem nas mais variadas mídias. A organização é o resultado do crescimento do TRAMAD, núcleo acadêmico de estudos de audiodescrição e legendagem nascido na Bahia, mas que agora compreende os estados de Minas Gerais e Ceará.
O evento conta com o apoio de entidades que agregam pessoas com deficiência e também da ARCCA (Acesso e Reintegração a Comunicação, Cultura e Arte), entidade que tem suas ações baseadas na valorização da pessoa humana e se utiliza da cultura, comunicação e arte para garantir e promover os direitos humanos.
O Signo da Cidade é um filme de Carlos Alberto Riccelli, com roteiro de Bruna Lombardi e do próprio Riccelli. No filme, diversos personagens corporificam os dramas vividos por pessoas comuns em uma grande metrópole. Suas tramas são interligadas através da personagem Teca (Bruna Lombardi), uma astróloga de um programa de rádio, que tenta ajudar esses ouvintes desorientados a encontrar soluções para os seus problemas, enquanto ela mesma precisa enfrentar seus próprios dilemas.
Pedimos a colaboração para divulgação do evento como forma de obtermos uma efetiva participação das comunidades a que o mesmo se destina.
EVENTO: Sessão de cinema com audiodescrição e legenda fechada
FILME: O Signo da Cidade
DATA: 23/09/08
HORÁRIO: 15h
LOCAL: Sala Walter da Silveira – Barris
ENTRADA FRANCA
PROMOÇÃO: Mídia Acessível/TRAMAD – ARCCA – ABC – DIMAS
Mais informações:
Sandra Farias (TRAMAD): (71) 87430605 sandrarosa@audiodescricao.com
Ednilson Sacramento (ARCCA): (71) 81080509 ednaweb@terra.com.br
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
RELEASE CURSO DE EXTENSÃO: INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO DE AUDIODESCRITORES
CURSO PIONEIRO NA UFBA CONTRIBUI PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA ACESSIBILIDADE NA TV BRASILEIRA
Dando cumprimento à norma de acessibilidade, a Portaria 466 de 30 de julho de 2008, do Ministério das Comunicações, determinou a implementação de duas horas diárias de audiodescrição na televisão aberta brasileira a partir de 30 de outubro deste ano. Sob a Coordenação da Profa. Dra. Eliana Franco (ILUFBa), que já pesquisa a audiodescrição desde 2004, o CURSO DE INTRODUÇÃO À FORMAÇÃO DE AUDIODESCRITORES visa fornecer conhecimento básico sobre este modo de tradução intersemiótica, que se caracteriza pela descrição em áudio – ao vivo, simultânea ou pré-gravada - das imagens de um produto audiovisual (ex. filme de cinema, programa de tv ou peça teatral) entre as falas originais, com vistas a proporcionar o completo acesso de pessoas com qualquer tipo ou grau de deficiência visual. Este conhecimento básico refere-se, principalmente, às principais técnicas usadas por audiodescritores dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Espanha, pioneiros no cumprimento da norma de acessibilidade, e sua prática. As técnicas podem ser resumidas em: percepção do “o quê” e “como” audiodescrever, preparação do roteiro da audiodescrição simultânea e pré-gravada, técnicas de uso de tempo, ensaio para gravação e locução da audiodescrição. O curso é aberto a alunos, professores e profissionais das áreas de jornalismo, cinema, letras, educação, artes cênicas e demais interessados. Serão abertas duas turmas, uma às terças e quintas de 18.00 às 19.30 (Turma I, com início em 09/09/08 e final em 02/10/08) e outra aos sábados de 09.00 às 12.00 (Turma II, com início em 13/09/08 e final em 04/10/08). As inscrições acontecem de 20/08 a 08/09, na sala 220 do 2º andar do Instituto de Letras, às 2as e 4as (09.00-11.00 e 17.00-19.00) e às 3as e 5as (11.00-12.30 e 16.45-18.00). O curso acontecerá no PAFIII (Campus Ondina) com o apoio do NAPE (Núcleo de Assistência à Pessoa com Necessidades Especiais da UFBa). Será cobrada uma taxa de R$ 80,00 (oitenta reais) por aluno, incluindo o material e certificado. Maiores informações pelo email: elisal@ufba.br ou pelo tel: 87055596.
domingo, 17 de agosto de 2008
Audiodescrição no Jornal O Estado de São Paulo
Publicado em 15/08/2008, coluna TEVÊ - Caderno 2 - Entre linhas.
Integração Social: Audiodescrição e closed caption
Sandra Lúcia Dias de Almeida
Notícia do site: Overmundo
TVs têm que implantar áudio-descrição de cenas em 90 dias
(31 de julho de 2008 )
As emissoras de TV têm prazo de 90 dias para veicular, na programação por elas exibidas, a áudio-descrição, que corresponde a uma locução, em língua portuguesa, sobreposta ao som original do programa, destinada a descrever imagens, sons, textos e demais informações que não poderiam ser percebidos ou compreendidos por pessoas com deficiência visual (SAP), conforme estabelece a Norma Complementar 01/2006, que regulamenta a Lei da Acessibilidade (10.098/00). A determinação consta da Portaria 466, do Ministério das Comunicações, publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União.
O prazo inicial de uso da áudio-odescrição estava previsto para o mês passado, mas foi suspenso por portaria do Minicom, a pedido da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão),sob o argumento da indisponibilidade de profissionais especializados na produção do recurso no mercado nacional.De acordo com a portaria, reunião entre representantes do Minicom, do setor de produção de áudio-descrição, do Comitê Brasileiro de Acessibilidade e da União Brasileira de Cegos, resolveu a questão. Durante esses três meses, serão formados mais 160 profissionais do setor.
A nova portaria mantém o o tempo de uso do recurso durante a programação diária estabelecida pela norma. Ou seja, a áudio- descrição será usada, no mínimo, uma hora, na programação veiculada no horário compreendido entre 8 (oito) e 14 (quatorze) horas, e uma hora na programação veiculada no horário compreendido entre 20 (vinte) e 2 (duas) horas, por período de seis meses. Depois desse prazo, o recurso será estendido para, no mínimo, duas horas da programação diária no horário nobre. Seis meses depois, para oito horas da programação diária, e assim sucessivamente, até atingir 20 horas da programação, ao final de três anos.
Para ler a notícia na íntegra, acesse o site: Telesíntese
sábado, 2 de agosto de 2008
Portaria nº466/2008: vitória!
Parabéns a todos os que lutam pela acessibilidade no Brasil.
Portaria Nº466 - Visitar
terça-feira, 29 de julho de 2008
Um marco na história da acessibilidade no Brasil
Anúncio publicado pela revista Veja no.30, de 30 de julho de 2008. (27/07/2008)
Neste último domingo a Natura colocou no ar o primeiro comercial do Brasil com audiodescrição para deficientes visuais. Ele aconteceu no segundo bloco de comerciais do Fantástico e sua audiodescrição foi acessada através da tecla SAP, disponível na grande São Paulo e Rio de Janeiro.
O comercial, sobre a linha Natura Naturé para crianças, foi criado pela Peralta Strawberry Frog, com audiodescrição da Iguale.Comunicação de Acessibilidade, sob o comando de seu diretor, Maurício Santana.
Parabéns a Natura! Um exemplo de cidadania a ser seguido.
Para ver a propaganda com AD, acesse o site da Igualle.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
ESPETÁCULO DE DANÇA OS TRÊS AUDÍVEIS COM AUDIODESCRIÇÃO
Em edição especial, no dia 08 de maio, às 20hs, no Teatro do Espaço Xisto, a apresentação do espetáculo de dança Os Três Audíveis será realizada com audiodescrição ao vivo para atender também ao público deficiente visual. Essa é uma iniciativa pioneira do grupo de pesquisa TRAMADAN (Tradução, Mídia, Audiodescrição e Dança), que uniu o Instituto de Letras e a Escola de Dança da UFBa, sob a coordenação das Profas. Eliana Franco (Instituto de Letras) e Fafá Daltro (Escola de Dança/Grupo X) e participação das pesquisadoras Sandra Farias (UEFS) e Íris Fortunato (UFBa).
O grupo de pesquisa TRAMADAN surgiu a partir de outro projeto investigativo, o TRAMAD (Tradução, Mídia e Audiodescrição) criado pela Profa. Eliana Franco (Letras-UFBa) em 2004, com o intuito de promover a acessibilidade audiovisual à sociedade deficiente visual de Salvador através da audiodescrição, ou da descrição (pré-gravada ou ao vivo) das imagens de produtos audiovisuais, a fim de otimizar a compreensão por seu público-alvo. O grupo é ainda composto por Sandra Farias (UEFS), Íris Fortunato (UFBa), Manoela da Silva (UFBa) e Renata Mascarenhas (UFBa). Desde sua criação, o grupo tem-se dedicado à audiodescrição de filmes de curta-metragem. A audiodescrição de espetáculos de dança, objetivo do recente projeto TRAMADAN, é um passo inédito e audacioso em direção à efetiva inclusão do público deficiente visual na vida social e cultural da cidade.
Em Os Três Audíveis serão oferecidas três versões possíveis de audiodescrição para as diferentes cenas do espetáculo, o qual será seguido de um debate que busca verificar as preferências do público receptor. Os resultados desta iniciativa serão apresentados em congresso sobre tradução audiovisual em Montpellier, França, em junho de 2008. O espetáculo do dia 08 de maio é aberto ao público em geral, mas pede-se que o público deficiente visual chegue meia hora antes (19.30) para que possa tocar o cenário e o figurino, bem como conversar com os dançarinos.
Os Três Audíveis (Ana, Judite e Priscila), prêmio Klauss Vianna de Dança, Funarte, 2007, trata das possibilidades poéticas dos corpos, acolhendo dançarinos com e sem deficiências em comunidades onde o espetáculo é apresentado. O espetáculo busca mostrar o universo das relações interpessoais com simplicidade e humor, enfatizando as relações do cotidiano do homem urbano. Distribuídas em quadros independentes e inter-relacionados, as cenas revelam poeticamente a intimidade dos limites de um espaço particular, que pode ser representado por um olhar furtivo ou sedutor, por uma situação de espera, um convite inesperado, o medo do inesperado. A autoria é coletiva, centrada na investigação e análise das possibilidades do movimento, fundamentado através de estratégias coreográficas que utilizam improvisação em cena.
Os Três Audíveis é um espetáculo do Grupo X de Improvisação em Dança sob a direção da coreógrafa Fafá Daltro (Escola de Dança da UFBa), que desenvolve uma estética reconhecida pela crítica como valiosa para a dança contemporânea por explorar as possibilidades técnicas e poéticas de múltiplos corpos, contrapondo-se às propostas de corpos ideais, por investigar a poética da espontaneidade através da improvisação, por acolher em seu elenco dançarinos cadeirantes e por adotar procedimentos que definem um novo paradigma na arte de coreografar. O Grupo X é formado ainda por Edu O, Hugo Leonardo, Andréa Daltro, Ricardo Bordini, Jamiller Antunes, e conta com a participação de Iara Cerqueira.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Áudiodescrição e Audiodescritores: Quem é Quem?
Com certo espanto, li as palavras de Claudete Oliveira, em reportagem sobre audiodescrição de 05/03/2007, para a revista Sentidos, em decorrência das sessões especiais da peça teatral Andaime, destinadas ao público deficiente visual. O susto veio quando a jornalista afirmou: "É que a Vivo - operadora de telefonia móvel - criou os audiodescritores." Para mim, professora universitária de uma instituição federal, que tenta investigar um modelo de audiodescrição no Brasil desde 2004, isso soou até um pouco ofensivo.
Outra generalização pouco fundamentada a respeito das sessões especiais da peça foi a feita pela jornalista Márcia Abos, para a Globo online (25/03/2007), descrevendo "o uso de experiências sensoriais para deficientes visuais" como "inédito na América Latina". Com um pouco de pesquisa na internet, chega-se à página da União Nacional de Cegos do Uruguai, que conta outras experiências sensoriais levadas a cabo em vários países, não somente latino-americanos, desde 1999.
Histórico do Uso da Audiodescrição
Só para esclarecer, a primeira audiodescrição como meio formal de divulgação de um espetáculo audiovisual ao público deficiente visual aconteceu em 1981, no Arena Stage Theatre, em Washington DC. No final dos anos 80, uns 50 estabelecimentos dos Estados Unidos produziam espetáculos audiodescritos. Na televisão, a primeira audiodescrição aconteceu na japonesa NTV em 1983, e em algumas emissoras da rede aberta de televisão na Catalunha, no final dos anos 80. Em 1994, a audiodescrição chegou à televisão britânica, e hoje, os principais países que investem na audiodescrição na televisão, no cinema e teatro são os Estados Unidos, o Canadá, a Argentina, França, Alemanha, Bélgica, Espanha, Inglaterra e Austrália.
Após pesquisar a legenda fechada para os surdos entre os anos 2000 e 2002, em 2004 tive o primeiro contato com a audiodescrição, em oficina de congresso sobre tradução audiovisual em Berlim, seguido de outra oficina em Barcelona em 2005, ministrada por um especialista britânico. Em outubro de 2004 fundei o grupo de pesquisa TRAM (Tradução e Mídia), registrado na UFBA e CNPq, onde investigamos, além de outros temas, a audiodescrição.
Audiodescrição e Narração ao Vivo
Aliás, outra explicação, o que se faz na peça Andaime não é audiodescrição, mas narração ao vivo. A audiodescrição acontece sempre com áudio pré-gravado, onde o timing do programa já está definido, o que não é o caso de uma peça de teatro, mas de um filme.
Uma ramificação do grupo de pesquisa da UFBA - alunas pesquisadoras voluntárias e especialistas em lazer e mobilidade das pessoas cegas - foi treinada por mim em audiodescrição de filmes para então desenvolver, desde 2005, pesquisas de recepção. Ou seja, audiodescrevemos e apresentamos filmes ou seqüências deles a grupos de cegos em Salvador (Associação Baiana de Cegos, Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual e Instituto de Cegos da Bahia) e em São Paulo (Laramara e Dorina Nowill) com o intuito de buscar um modelo de audiodescrição que satisfaça os espectadores deficientes visuais. O início do processo está documentado em publicação da Ciência e Cultura, revista da SBPC ( http://cienciaecultura.bvs.br), volume 58, no.1).
Qualidade, Tempo, Custos e Resultados
Os resultados das pesquisas de recepção do grupo (uma em São Paulo e duas em Salvador) já foram apresentados em Barcelona (junho de 2005), em Copenhague (maio de 2006), e em Salvador (dezembro de 2006, em congresso da UFBa), e estão na fila de publicação faz algum tempo em editoras do país1. Timidamente, o trabalho tem conquistado o reconhecimento internacional e algum reconhecimento regional, como o proporcionado por uma entrevista na TV Educativa da Bahia, em julho de 2006. O reconhecimento internacional veio não só dos congressos, mas do fato de eu ter cursado doutorado na Bélgica (1995-2000) e agora, estar fazendo um pós-doutorado em tradução audiovisual na Universidade Autônoma de Barcelona até o final de agosto de 2007, o que facilita muito o contato e intercâmbio de idéias. Isto tudo com o apoio da Capes, que sempre financiou meus estudos. O problema é que, após tanto investimento em conhecimento no exterior, é difícil aplicá-lo na volta ao Brasil.
Por exemplo, o Pós-Doc em tradução audiovisual enfoca a questão da acessibilidade. Entretanto, como posso desenvolvê-la, e até mesmo ensiná-la, sem recursos disponíveis para investir em equipamentos que a área exige, por exemplo, uma ilha de edição para a mixagem da audiodescrição? Por isso, a pesquisa é feita de modo quase artesanal, e muito lentamente. Aí, chega primeiro quem tem dinheiro, como a Instituição Vivo, que equipou seu teatro com fones sem fio, os mesmos que se usam em interpretação simultânea. Que bom se esse teatro fosse disponibilizado para nós, pesquisadores!
AInvisibilidade e o Não Reconhecimento
Como eu, outras pessoas engajadas com a causa da acessibilidade audiovisual estão tomando iniciativas. É o caso da produtora Cristiane Oliveira, do Clube Silêncio de Porto Alegre, que teve a feliz idéia de promover filmes de curta-metragem com audiodescrição, a partir de um roteiro seu, cuja protagonista é cega. Os filmes foram apresentados no Cine Santander de Porto Alegre e incluídos no Festival de Curtas de São Paulo, promovido pelo Museu da Imagem e do Som em agosto de 2006. Este ano, o festival se repete, e se tudo der certo, a sessão de audiodescrição também, com uma possível parceria, onde uniremos técnica e conhecimento. O grande valor dessa iniciativa, para mim, está no fato de que a produtora foi buscar na pesquisa acadêmica um maior conhecimento para aprimorar seu trabalho. É desse tipo de iniciativas que precisamos.
A mais recente iniciativa de promover a acessibilidade audiovisual foi a da Profa. Dra. Lívia Maria Villela de Mello Motta que, através de sua experiência na capacitação de pessoas cegas e de sua participação voluntária no Grupo Terra de Inclusão Social, acabou escrevendo o primeiro roteiro de narração para teatro no país, o da peça Andaime. E quase ninguém sabe disso também. Infelizmente, nenhuma de nós tem poder para promover o estardalhaço da mídia nacional. O comentário do entrevistado do Jornal Nacional (março 2007) Leandro Dupré, cidadão cego, após assistir à peça, de que seria bom que fizessem o mesmo com filmes, isto é, os audiodescrevessem, atesta mais uma vez a invisibilidade em que o pesquisador vive, não porque quer. Assim, todos os méritos ficam para a empresa promotora. Sim, a Vivo tem méritos, como o Programa Vivo Voluntário, que promove a capacitação de voluntários da empresa através de cursos. A narração da peça teatral Andaime, em cartaz no Teatro Vivo de São Paulo, foi desempenhada por alguns desses voluntários, orientados pelo curso ministrado pela Profa. Lívia.
Eu mesma fui conferir a iniciativa na estréia da peça ao público, no final de março passado, por ocasião de viagem ao Brasil. Contudo, para meu desapontamento, em nenhum momento, e diga-se de passagem, em nenhum lugar do site da Vivo ouvimos ou lemos algum crédito à referida professora, que ministrou o curso e escreveu o roteiro da narração da peça. É triste ver tanta dedicação sem reconhecimento. Então, nós, pesquisadores dedicados, viramos uma instituição que fez isso, fez aquilo, e que no final "criou os audiodescritores". Justiça seja feita, o único agradecimento à professora de que tenho conhecimento foi de autoria de Paulo Romeu, conhecido ativista da causa da acessibilidade, em texto disponível no site da "Bengala Legal". E é só.
Ora, mesmo que freqüentem um curso, os audiodescritores não se "criam" tão rapidamente, é preciso muita prática. E audiodescritor é quem escreve o roteiro, principalmente. Aqui na Europa, são cursos e cursos, discussões e discussões. Precisa-se estudar os padrões locais, as preferências nacionais, as questões culturais, não é tão simples assim fazer audiodescrição. No final, a iniciativa fica sendo uma novidade da empresa promotora, e alguns dos cidadãos cegos que ali estavam, e davam entrevistas à televisão, não tinham outro nome a mencionar e agradecer. É claro, foi a Vivo que pagou o curso ministrado pela professora aos voluntários, mas além de justo, o que representa esse valor para a empresa que se define como "a maior prestadora de serviços de telecomunicações móveis do Hemisfério Sul"?
A Vivo é uma empresa privada controlada pelos Grupos Portugal Telecom e Telefónica da Espanha. Seu programa de responsabilidade social é, sem dúvida, louvável. Mas, pensando bem, não seria mais uma obrigação do que um mérito o fato de que toda empresa que lucrasse no país, nacional ou estrangeira, contribuísse com algum setor carente da sociedade? Será que estamos tão mal-acostumados, no pior sentido da expressão? Percebi que o público deficiente visual que ali estava na sessão de teatro elogiou muito a iniciativa "da Vivo." Claro (oops!), acostumados a nunca ver seus direitos de acessibilidade atendidos, qualquer ação é bem-vinda por parte destes espectadores. É difícil ser mais crítico sem nenhum parâmetro de comparação, é verdade.
Conclusão
O que eu tenho notado nas pesquisas de recepção é que é difícil contentar a todos os deficientes visuais ao mesmo tempo, por isso é importante que eles falem, dêem opinião sobre essa ou aquela audiodescrição, ao invés de elogiar apenas. Só assim será possível chegar a um maior consenso, embora nunca completamente satisfatório. E, desta forma, a pesquisa poderá avançar e fornecer dados precisos para que projetos sejam elaborados, como a formulação da norma de acessibilidade pela ABNT.
Pode parecer, mas não estou criticando a iniciativa da Vivo, mas o desprezo pelo trabalho acadêmico, representado aqui pelo trabalho dedicado da professora Lívia, a indiferença pela pesquisa. Espero que a Vivo continue investindo na audiodescrição cada vez mais. Espero que haja mais e mais voluntários na empresa interessados em audiodescrição. Aliás, parabéns aos voluntários da Vivo! Eles merecem! O que eu considero uma pena é o fato dos recursos disponíveis serem destinados apenas aos voluntários da empresa, sem qualquer vinculação com pesquisadores, as pessoas que produzem o conhecimento sobre audiodescrição, o profissional que forma o voluntário da empresa. Se a Vivo se dispõe a trabalhar com "honestidade, profissionalismo e transparência", nada mais justo do que dar visibilidade a quem a ajudou. A falta de reconhecimento público do trabalho da professora Lívia é uma prova da falta de interesse, e um imenso desestímulo àqueles que realmente se dedicam à causa. Desta forma, a responsabilidade social empresarial nunca trabalhará de mãos dadas com a educação. E dá a impressão de que tudo gira em torno de autopromoção. E o pesquisador permanece invisível.
1 "A Audiodescrição Amadora e Acadêmica em Confronto: Um Estudo de Caso", em fase de publicação; e "Em busca de um modelo de acessibilidade audiovisual para cegos no Brasil: Um projeto piloto", publicado em Tradterm, v.13, São Paulo: Humanitas (FFLCH/USP), 2007, p.171-185.
Eliana P. C. Franco.
Professora da UFBA, Pós-Doutora UAB
Capes.CoordCNPq. Audiodescrição e coordenadora Projeto TRAMAD/DLG-UFBa